terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências (...) Mas o que me doía, agora, era um passado próximo. Não conseguia compreender como conseguira penetrar naquilo sem ter consciência e sem o menor policiamento: eu, que confiava nos meus processos, e que dizia sempre saber de tudo quanto fazia ou dizia. A vida era lenta e eu podia comandá-la. Essa crença fácil tinha me alimentado até o momento em que, deitado ali, no meio da manhã sem sol (...) Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido. Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram.

( Caio F. Abreu )

2 comentários:

  1. ESte é tipo de reflexão que nos leva a perceber a nossa condição humana...
    Belo post!
    ;D

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  2. Esse Caio, assim como Clarice, é muito sabido..

    E Renato, tbm muito sabichão, nos disse que tudo passa, tudo passará...

    Carinho em vc, mocinha.

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